A. Jorge Ribeiro
Um homem, quando adrega de apaixonar-se, ou mar ou terra.
Meu Diário
23/10/2009 17h39
Bofetada, mão cortada
O título desta página do meu diário também poderia ser “Para uma bofetada, uma facada.”

Se o povo assim falava é porque constituiu provação deveras infamante ser agredido através de quatro taponas, calmadas sem aviso nem premonição.

Chegaram as moscas a nossas casas, catam-se as galinhas nos quintais, juntam-se em bandos os pardais… aí estão os sinais de que a chuva não tarda.

Para prever a precipitação atmosférica através da prenunciadora dor dos calos, é preciso tê-los.

“O autor da «Carta de Guia de Casados» guiava quem quisesse casar; mas não casou.”

Como redijo croniquetas para vários jornais, uso frequentemente pseudónimos, até indiciadores de pessoa daquele sexo a que os ascetas apelidaram de «oposto» porque nunca o viram de qualquer dos prismas. Se há algo no mundo que não é oposto ao sexo masculino, é o feminino. Os teólogos, tendo algum conhecimento prático, chamar-lhe-iam sexo sobreposto, sotaposto, anteposto, descomposto, interposto, justaposto, mas nunca sexo oposto.  

É o caso do meu heterónimo Fabrícia Amarilis que tenho usado para textos de maior sensibilidade.
Os cavalheiros dirigem-se à Fabrícia com uma deferência desusada, neste país de machos conflituosos, filhos e netos de lavradores e de mecânicos habituados a que os lobos lhes viessem agadanhar à porta.
Ao filho do sapateiro, ressalvada a consideração que nutro por esta profissão, aconselhou o pai: “Se alguém te falar em versos, fala-lhe tu em botas”.

Se os leitores masculinos de Fabrícia só podem imaginá-la de minissaia rosa às pintinhas encarnadas, umbiguinho ao léu, alvo corpetinho tapa-maminhas bordado e colchetado por um lacinho preto!… deixem-nos assim que os leões têm meiguices que fazem inveja às pombas.
Publicado por ANTONIO JORGE
em 23/10/2009 às 17h39
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19/10/2009 12h34
Se filho de ruim sair bô..., lá vem o neto que sai ao avô.
Recebi resposta da jornalista.
Uma vez que já passaram as eleições, pensei bem que a minha humilde interpelação ao irmão de Eos e Selene não merecesse resposta.
"Confidencialmente" fiquei a saber que "A história remonta ao reinado de D. Carlos I - em 1820 - quando decide trazer de Inglaterra a 'moda' dos fornecedores das Casas Reais".
Ao que parece, esta local teve "mestre"!

Em 1820 andava D. João VI a fazer as malas para regressar do Brasil - em viagem menos atribulada que a da ida - e, por cá, fazia cerca de três anos que Gomes Freire tinha sido enforcado.
D. Carlos I foi assassinado no Terreiro do Paço em 2 de Fevereiro de 1908, contando apenas 44 anos.

A revolução de Agosto de 1820 e o regicídio estavam demasiado na minha memória da história de Portugal para deixar passar em claro a imprecisão.

Um 'infeliz' erro... felizmente admitido.
Publicado por ANTONIO JORGE
em 19/10/2009 às 12h34
 
14/10/2009 05h13
Custa mais a mecha que o sebo
O meu companheiro de tantas horas transformou-se num pasquim.
É “lixo impresso, o mais triste de todos os lixos.”
A seu modo, é uma vítima da globalização.
Nascerá um hebdomadário digno, nas economias emergentes, por cada folha que, nesta Europa “rica”, se torna ignóbil?
Mas eu continuo a adorá-lo.
Nele, não tem de morar a virtude. E a superficialidade? E a bisbilhotice? E o sectarismo?
Já há muito, para não morrer de fome, “meteu a coragem debaixo dos joelhos, que pôs em terra, pedindo clemência” ao visa Gold.
Anda a juventude a meter a coragem debaixo dos joelhos! Porque ainda não se deu conta da vergonha da carreira contributiva. Porque ainda não reparou que os empregos para que se preparou já não existem desde há 5 anos!
E o burgo está a ser apoderado pelos velhos que não precisam do “empreguinho”, da “colocaçãozinha”, dumas “horinhas aqui, umas horinhas além”.
Mas os velhos que sarroteiam no jardim, se lhes atrasarem dois dias a pensão de sobrevivência, a sua coragem não vale um cigarro fumado.
Lêem na praça o meu pasquim, atulhado com os políticos (que são volumosos).
Mas ainda assim reserva sempre algumas linhas às minhas caturrices.
Como o adoro!
Publicado por ANTONIO JORGE
em 14/10/2009 às 05h13
 
08/10/2009 14h06
Pão bolarento por dentro e cordas de viola por fora
Vivo o dia de hoje muito feliz.
Sou quinquagenário e, vai não vai, estou sexagenário.
Portugal tem vivido quase meio ano de suspensão eleitoral.
Considero que o acto de escolher um governante ou um autarca deveria decorrer pelo menos durante uma semana.
As pessoas deveriam poder voltar atrás, corrigir a opção, até votar mais do que uma vez para o mesmo órgão político, durante uma semana inteirinha, de segunda a domingo... ou mais!
Os governos das nações deveriam esforçar-se por proporcianar ao povo muitas e boas horas de lerda pachorra.
Mas, só porque as pessoas vivem tão assoberbadas que não lhes sobra tempo para terem bom gosto, é que escolhem desta maneira estes governos. 
Há cem anos (e há duzentos anos) dizia-se: "o ministério (governo) está entalado entre o Banco de Portugal e a dívida activa, e a dívida passiva, e a dívida flutuante".
Hoje continuamos a viver entre dívidas, a menos que nos sentemos no banco do jardim, arredando o cãozito vadio, e admitamos que todos os animais foram criados por Deus, excepto o camelo que foi resultado de um grupo de trabalho.
(Devo esta ao meu consultor de economia)
A sociedade é um monstruoso (enorme!) negócio, tratado com panos quentes.
Quem tiver saudade dos tempos antigos lembre-se que, antes da internet, os homens para o seu nome - e a fama, e a glória - vir no jornal, arruinavam-se; as mulheres, desonravam-se; os políticos, desmanchavam a boa ordem do Estado; os sábios, alardeavam teorias mirabolantes!
Leiam Eça.
Publicado por ANTONIO JORGE
em 08/10/2009 às 14h06
 
06/10/2009 07h12
Contente como gato com trambolho
Estou a ler «Agulha em Palheiro» de Camilo.
Sobre o relacionamento de Camilo Castelo Branco com Santo Tirso, escrevi um dia:

Em Junho de 1890, a vila de Santo Tirso estava a preparar umas grandiosíssimas festas a S. Bento que viriam a ser nos dias 10, 11, 12 e 13 de Julho.
O conde destinara 4 a 5 contos de reis para gastar na romaria. E como ainda todos tinham em mente o extraordinário êxito da exposição mundial de Paris de 1899 – onde estiveram mais de um milhão e meio de estrangeiros e, só os americanos, gastaram mais de sessenta e três mil contos em ouro – foi decidido adjudicar ao mestre de obras Manuel Ferreira da Silva a construção de uma torre, tipo torre Eiffel, com mais de trinta metros, que aguentasse com os visitantes nas suas plataformas, donde podiam ver um admirável panorama por um módico preço.
 
Esta torre, denominada Torre do Ave, manteve-se para outras festas de S. Bento, enquanto durou o conde.
Foi durante a azáfama da comissão festiva e das comissões de ruas, preparatória da grande feira franca, arraiais e procissões, que, em S. Miguel de Ceide, estava a desenrolar-se o profundo drama.
Camilo nasceu quando o conde de S. Bento, com 18 anos, calafetava, no Brasil, os fundos das arcas encoiradas que deveriam acumular uma fortuna imensa. Camilo nasceu e viveu para o sofrimento e para o amor, para o conservadorismo e para a literatura, para as suas famílias e para a solidão. O conde nasceu e viveu para o estômago e para o trabalho, para as libras de ouro e para os escravos, para as honrarias e para as benemerências.
E, na hora trágica da morte de Camilo, o conde andava em bolandas a gastar cinco contos de reis em 6-Bandas de Música-6!
Estranha sorte a menos de uma légua de distância! Uns preocupados em proporcionar aos forasteiros “umas brilhantíssimas iluminações”, com luz eléctrica até Cabeçudos! O “primeiro romancista” põe fim aos seus dias por não ter a luz dos seus próprios olhos!
Camilo, que começou a sofrer dos olhos em 1857, penou durante trinta e três anos as dificuldades oftálmicas que o levaram à irremediável cegueira e ao inevitável suicídio. 
 
Publicado por ANTONIO JORGE
em 06/10/2009 às 07h12
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