UM FOLHETINISTA DO «JORNAL DE SANTO THYRSO» – EDUARDO CARVALHO
“Santo Thyrso à vol d’oiseau”!
Eduardo Carvalho, radicado em Famalicão, imita, em 1884, a célebre princesa Maria Rattazzi (1813-1883) e o seu “Portugal de Relance” (Le Portugal à vol d’oiseau - 1879).
Para não dar azo a que os tirsenses o zurzissem, como Guerra Junqueiro fez à “francesa” crismando-a de Princesa Ratazana, Eduardo Carvalho diz de Santo Tirso maravilhas, no tempo em que livrar da tropa os filhos dos caseiros e entrar na Administração sem tirar o chapéu da cabeça era “estar de cima”, politicamente.
Talvez esta que estamos a descrever fosse a única prosa em que não meteu brasileiros, nem raparigas que se recolhessem em conventos. Mas, no que respeita a fidalgos de província e a românticos apaixonados e transparentes, foi invariável como a chuva e o bom tempo.
Noutros “Folhetins” – escreveu oito, entre agosto de 1882 e novembro de 1888 – não deixou de estorcegar o estilo do brasileiro: “À sua figura prosaicamente abdominosa juntava o adorável atributo de possuidor de centenas de contos, quatro engenhos de café na roça, 300 escravos na fazenda de Ricopiranga, e muitas esperanças num prometido viscondado”, cujo título o pobre recebeu no dia da boda nupcial e foi o de Visconde de Chavelhos! Esta obsessão por chavelhos ocorreu num tempo em que tinha menos de dois anos a viscondização de Manuel Ribeiro e os contos de reis do nosso titular privativo eram milhares, não centenas.
Eduardo Carvalho era tido e achado em Santo Tirso, minucioso observador do que o rodeava, pintando com cores vivas até as cenas tétricas. Por ele ficamos a saber que, nos funerais, os confrades além das opas usavam capuzes. Os das opas brancas cobriam-se as respetivas cabeças de toucas azuis, e os de opas roxas faziam-no com capelos brancos. Uma garridice funérea! E que os lavradores caçavam coelhos com furões açaimados, para gáudio das lebres que se estonteavam na presença dos varapaus de lódão dos capatazes.
Chama a Santo Tirso “sorridente povoação” e inventa que o amoroso Ave a banha e o sinuoso Córdova a protege, colocando no seu cocuruto cavernas de mouros encantados e ruínas de castelos góticos.
Mas onde o autor ostenta a sua capacidade metafórica é ao comparar a “vila de Santo Thyrso a uma voluptuosa odalisca, inebriada de haxixe e fragrâncias orientais, que se reclinasse preguiçosamente no regaço dum velho titã poisando os pés na escama luzidia duma longa serpente coleante”!
E o mais são as praças e palacetes, o rio e a ponte, o convento do Visconde, a Sibéria das repartições, o botequim do Friães com bilhares e loja de barbeiro, e o Caroço, essa instituição famulenta que levou os bifes de cebolada boiando num dilúvio de vinagre ao prémio de popularidade entre os gourmands dos mercados semanais do Campo 29 de Março.
A linda história acaba numa soirée dançante no Club, animada pela orquestra do Veloso e pelo serviço de doces e vinho fino que o diretor foi buscar ao Porto, na falta da Confeitaria Moura.
De qualquer modo, Eduardo Carvalho teve a sublime qualidade de ser breve.
A planura é uma noite.
Os ciprestes nus rebordam-se em cada clarão da intempérie.
Relâmpagos, com estampidos formidáveis, eletrificam os quatro pontos cardeais, numa aflição pungente da natureza árida e tempestuosa.
Eu, só!
Subitamente, no coração do chão, uma luz suave inunda toda a paisagem daquele ermo asturiano.
Eu, só!
Caminho? Atiro-me à voragem? Deixo-me envolver por aquela suavidade?
O momento é decisivo.
Coligação Por Todos Nós
Com Andreia Neto
Estou a começar um novo conjunto de crónicas sobre Santo Tirso (Portugal) que intitularei «Da Vila e da Cidade».
A primeira crónica é sobre as antigas propriedades agrícolas do centro da cidade, desde os vastos quintais às quintas e vessadas.
Dedico este livro a F…. e espero para ele a sua benevolência.
Com a grande e longa admiração intelectual
Com muita estima e consideração
Com a amizade que nos une relacionada com …
Para F… com a admiração, o apreço e a gratidão
Ao F… com a expressão de muita estima e elevado apreço
À… , homenagem de…….