A. Jorge Ribeiro
Um homem, quando adrega de apaixonar-se, ou mar ou terra.
Textos
Motes e convicções
OS FOLHETINS DO «JORNAL DE SANTO THYRSO» NO SÉCULO DEZANOVE

O Jornal que se pode considerar pai deste, durante os dezanove anos que viveu, no séc. XIX, publicou 373 folhetins, com assomos ou manifestações de literatura.
Alguns dos autores selecionados pelo seu diretor, José Bento Correia, já não estavam no mundo dos vivos na altura das publicações, mas a larga maioria dos excertos exprimiam ideias e conceções de autores contemporâneos às edições.
Os do passado não chegam à dezena: Padre António Vieira, Stendhal, Luís de Camões, Teixeira de Vasconcelos, Júlio Dinis, Arnaldo Gama, Alexandre Herculano, Almeida Garrett e Feódor Dostoievski.
Os contemporâneos podem dar uma ideia da seletividade da direção do jornal, da oportunidade das suas intervenções literárias e políticas, da acuidade da sua crítica social.
Raul Brandão começou a publicar no jornal tirsense com 23 anos de idade e Trindade Coelho com 27.
Alguns autores estavam ligados à história de Santo Tirso, como Vilhena Barbosa, Alberto Pimentel, Alves Mendes ou Camilo Castelo Branco.
Vilhena Barbosa deixou-nos páginas importantes em “Monumentos de Portugal”, versando o nosso Mosteiro. Dedicou também belas palavras à apreciação dos costumes populares da província do Minho, região a que Santo Tirso — não pertencendo — pertencia, pelas características das suas gentes e pelo facto de uma parte importante do seu concelho estar integrada na arquidiocese de Braga.
Alberto Pimentel — bem como o seu irmão João e o seu sobrinho arquiteto — tinham familiares em Santo Tirso, na família Costa Leite. Escreveu uma interessante monografia editada em 1902 pelo Club Tirsense, publicou um romance quase completo no jornal em referência com o título “A Guerra das Carolinas”, cheio de tipicismo e versando a turbamulta da guerra civil do primeiro quartel do século.
Alves Mendes, o cónego António Alves Mendes da Silva Ribeiro, foi panegirista, professor e orador e autor sagrado de uma eloquência melodiosamente impressiva. As suas homilias, que eram razão de grande confluência de povo na igreja do nosso cenóbio, ocorriam sempre que se tornava indispensável dar uma solenidade especial às festividades.
Camilo Castelo Branco, o génio que, em S. Miguel de Seide do vizinho concelho de Vila Nova de Famalicão, escreveu as mais belas páginas do romance português em 179 obras, foi cronista, crítico, polemista, dramaturgo, historiador, poeta e tradutor.
Visita assídua de Santo Tirso, cabe também aqui uma referência à interação de Camilo com os dois autores mencionados anteriormente. Alberto Pimentel dedicou muitas páginas à vida de Camilo para o que lhe foi importante a fixação domiciliária em Santo Tirso, muito perto da tebaida camiliana. Alves Mendes esteve, com o abade Joaquim Augusto da Silva Pedrosa, envolvido numa tentativa de casamento de Camilo com Dona Ana Plácido que deveria ter sido consumada em Santo Tirso. Só não terá acontecido, porque para Camilo, que tinha frequentado o seminário, não se arranjou a documentação que o libertasse do celibato sacerdotal.
Um outro conjunto de autores mostra a relevância da cidadania para o diretor José Bento do «Jornal de Santo Thyrso». São as mulheres. Tiveram sempre um lugar de relevo nos folhetins. Maria Amália Vaz de Carvalho figura entre as primeiras e maiores. Inês Pinto, Maria José, Maria da Esperança, Anastácia Gonçalves de Gomes, Judith Cauchois-Lemaire, Adelaide Penha Magalhães, Emília d’Andrade, uma plêiade de escritoras deixaram no hebdomadário novecentista lindos trechos.
O nome de todos os outros, uns mais notáveis outros com relevância circunstancial, deixam uma impressão indelével de bom gosto: Tomás Ribeiro, Júlio César Machado, Pinheiro Chagas, Teófilo Braga, Eça de Queirós, Gervásio Lobato, Padre Sena Freitas, entre os nacionais. Camille Flammarion, Alphonse Daudet, Catulle Mendés, Leão Tolstoi, Guy de Maupassant, Alexandre Dumas, Victor Hugo e Edmundo de Amicis, são os nomes do estrelato literário mundial que ornaram as páginas do Jornal no século XIX.

ANTONIO JORGE
Enviado por ANTONIO JORGE em 15/10/2021
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