A. Jorge Ribeiro
Um homem, quando adrega de apaixonar-se, ou mar ou terra.
Textos
Doce C.
 
Para lhe provar que não atingi ainda os paroxismos da insanidade mental, começo por lhe pedir permissão para agregar à palavra o que seria só da alçada íntima da alma.
Antes de colocar um ponto final em nosso amor, através de minha última carta, fiquei sem réplica sua durante quase um mês, em que escrevi diariamente, tentando me desconvencer de que você não exercia a indústria de caloteira de resposta.
Continuo nu.
Não choro mais.
Aquela gravata fernandinho que você me ofereceu rebentou sob meu peso quando tentei me enforcar. Vou colocá-la no pescoço de um urubu que me está mirando alambrado, enquanto malho nesta esteira industrial de descarga a granel de sacos de corcundas.
Sim, é para si que estou escrevendo. Ó descarada insensível!
Os portugueses sabem lá o que é malhar em esteira! Os portugueses sabem da árvore da forca, no jardim da Cordoaria, mas não sabem a curvatura do pescoço do papa-defunto! Os portugueses sabem lá se eu me lasquei por tomar suco na beirada!
É para si!
A mistificação acabou! 

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Oh!
Teus lábios me xingam, e eu abraso-me em sede de teus beijos!
As tuas mãos enjeitam-me e eu cada vez mais te cinjo com meu colo!
Não queres que eu te ame? Mas eu roubo-te o amor!
Não és tu que te dás, sou eu que te arrebato!
Reverte esse furor em ternuras!
 
Sou em pré-existência do inferno.
Há três remédios para desafogar esta angústia:
A resignação
O cinismo
O suicídio
 
Nem amigos tenho para vender aos meus inimigos.
Nem faces lacrimosas para cuspir.
Nem coroas de virgens para desflorar.
 
ESTOU SÓ!
Eupatia
ANTONIO JORGE
Enviado por ANTONIO JORGE em 12/05/2010
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