A. Jorge Ribeiro
Honra e proveito não cabem num saco
Textos
Dizias-me, em trémula voz, grande poema:
                 
Repousa sobre o mármore frio
O corpo erecto de uma criança loira
Ninguém a olhara mesmo de passagem!
Apenas o sol pela janela
Ao vê-la nua reparara nela
E com um raio carinhoso e brando
A aquece e doira
Durante todo o curso nunca no anfiteatro aparecera
Em pasto do escalpelo
Uma escultura assim
Corpo tão belo! 
A pequena cabeça dum cabelo emaranhado tem plácida a caída
Como um sonho voa inconsolado
Nesses sonhos azuis dos vint’anos
Sonhos da virgem com o seu bem-amado

E, já com soluços, continuavas:

Tem as pequenas pálpebras fechadas, pesadas e tomentes 
Os lábios entre-abertos em delicada pira
Mostram-lhe os brancos dentes 
De forma que parece que dorme, que respira
Já viram algum dia o olhar de um morto
Fixo, ......, como que absorto
Olhando-nos sem fim, lúgrube sentinela 
É horrível, sabei
É um olhar que gela
O olhar de um vivo retem-se

E, por fim, terminavas esta nostálgica recitação.
Lá no céu, onde vives agora, podes dizer-me quem escreveu este poema?
ANTONIO JORGE
Enviado por ANTONIO JORGE em 09/12/2009
Alterado em 10/12/2009
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