Palavrões para quê? (7)
Alguma intelectualidade, verdadeira delícia que não perco por qualquer futebol deste mundo e se exibe na TV, ostenta uma admiração pascácia perante a palavra e o conceito de côngrua.
A tradição de pagar à Igreja a décima parte dos frutos colhidos (dízimo) vem do séc. VIII (Carlos Magno) e substitui as primitivas oblatas dos fiéis; este estipêndio passou a ser obrigatório no séc. XI.
Com o triunfo do liberalismo, foi abolido o dízimo e substituído pela côngrua. O adjectivo “côngruo” significa “exacto, apto, adequado. Côngrua vem de «côngruo sustento», ou seja, do «estritamente necessário para viver». Após a República, melhor desde 20 de Abril de 1911, acabou a côngrua e passaram, os fiéis, a contribuir com um dia de trabalho.
Nalgumas igrejas o nome “côngrua” manteve-se, o que não admira pois tem um rigoroso significado. Noutras aplicou-se o «subsino», por que as “Confrarias do Subsino” desempenharam as funções das actuais comissões frabriqueiras.
Num conceito mais amplo de “côngrua” incluíam-se outros proveitos eclesiásticos como os rendimentos dos bens da igreja, a remuneração dos actos de pompa, os emolumentos do cartório, a derrama, e, mais antigos, os prémios, os bolos, as primícias, os folares, as derriscas (desobrigas), o pé-de-altar, o passal, as ofertas, os responsos. Os actos sem pompa outrora eram gratuitos.
• Leveiro – De pouco peso ou pouca força; em que há grande mobilidade e rapidez; ligeiro, presto; despreocupado, tranquilo, sereno; capaz de se suportar.
«Que a minha faca era afiada e leveira… Se afiada a trazia, muitas vezes tive pena de não ter à mão a catana do Durandarte.» Aquilino Ribeiro, O MALHADINHAS.
• Birbantão – Malcriado e respondão; muito enganador ou aproveitador; convencido, atrevido ou orgulhoso.
«Era o momento de me chegar adiante, visto que o birbantão se não rendia às palavras leais de meu sogro: - Que febre lhe fazem as bestas, amigo? Deixe-as quietinhas. Tem muito lugar…» Aquilino, obra citada.
• Brunhir – O mesmo que brunir. Dar lustro; tornar uma superfície brilhante; fazer um tecido ficar lustroso ao passá-lo a ferro; alisar ou regularizar; usar brunidor na fundição; apurar, aperfeiçoar.
«ela nos campos ministra às plantas o refrigério, com que se temperem os ardores do Sol de hoje, e resistam aos de amanhã; ela nos mares está prateando as conchas, congelando as pérolas, brunhindo as escamas dos peixes» Padre Manuel Bernardes, LUZ E CALOR.
• Alamarado – Adjectivo que significa guarnecido de alamares, isto é, de franjas, frocos, galões e outros artigos têxteis de passamanaria.
«Feliciana tem desmaios de assombro quando atravessa as salas da fada; quer ajoelhar e beijar a mão de soror Paula, que a recebe de roupão de seda verde alamarado com presilhas de ouro e pedras.» Camilo Castelo Branco, A CAVEIRA DA MÁRTIR.
ANTONIO JORGE
Enviado por ANTONIO JORGE em 10/10/2009
Alterado em 10/10/2009