A. Jorge Ribeiro
Honra e proveito não cabem num saco
Textos
Nos 175 anos da entrada do exército liberal em Santo Tirso
26 de Março de 1834 - 26 de Março de 2009

O MOSTEIRO BENEDITINO

S. Tirso de Riba d'Ave
Couto, Mosteiro real,
Nasceu antes da nação
Precedendo a fundação
Do reino de Portugal.  

D. Henrique e D. Teresa,
Em mil e noventa e sete,
– Porque assim o entenderam –  
A Soeiro Mendes deram
Mosteiro e o que lhe compete.

Logo no ano seguinte,
Soeiro Mendes o deu
A D. Guademiro abade
E a todo aquele frade
Que a ele sucedeu.

Duma grande autonomia
Gozava o nosso Mosteiro.
Parecia mais um concelho
Do que um vulgar couto velho
Sem privilégios, foreiro.

Refojos de Riba d’Ave,
Grande concelho fronteiro,
Só juiz e tab’lião
Nomeava com função
No couto deste Mosteiro.

Instituído assim o Couto
Pelos altos dignitários
Mais de setecentos anos
Foi d’Abades lusitanos
E dos monges donatários

El-Rei Afonso, o Terceiro
Ao inquirir colação
Nomeou vários lugares
Contando também os lares:
Alcaide, Fontes, Gião

Argemil e Varziela
Vilalva, Friães, Lagoa
E ainda a Carvoeira;
Vint’oito casas com eira,
Não é freguesia à toa!

Foi em vinte e seis de Março
De mil oito e trinta e quatro
Que uma lei dos liberais
Revirou tantas e tais
P’rós frades não foi teatro!

Fomos então a concelho.
Mas já no ano anterior
À vinda dos liberais
Dos oitocentos ou mais
Santo Tirso foi senhor

Na liberal formação
Acima já mencionada
Uma tal autonomia
Só por si não garantia
Concelho com nomeada

Refojos de Riba d’Ave,
Negrelos e Rebordões,
Francemir e assim Roriz,
Concelhos desse cariz
Não foram imitações

Mas poucos anos volvidos
Nem um só deles restou.
Qual foi então a razão
Por que aos outros deu sezão
E Santo Tirso ficou?

É já um facto histórico
E não mistério insondável
Santo Tirso só cresceu
Por razão que pareceu
A todo o título viável

Muitos dos outros senhores
Pouco diziam às gentes
D’impostos recebedores
De justiça provedores
Viviam longe e ausentes

Em Santo Tirso o momento
Foi de progresso e labor
Tal o desenvolvimento
Que o Cidenai e o convento
S’impuseram ao redor

Taipas, Carvalhais, Picôto
Sem a menor dispersão
S. Bento, Corvilho, Rua,
Todos na mesma falua
Formavam a povoação

Os frades deste Mosteiro
Com um pensamento novo
Aqui sempre residentes
Cuidaram sempre dos crentes
E do bem-estar do povo

Quando a paz da clausura
Se fechou em trinta e quatro
Serviços, repartições
Funcionavam em balcões
Só lá faltava arquiatro

No lugar de Cidenai
Cadeia do Couto antiga
Edifícios com decência
Casa forte da Audiência,
E outra os curas abriga.

Em eras já muito antigas
(Século dezoito ia a meio)
Doaram frades as leiras
Para fazerem as feiras
Que eram do povo anseio

Não sendo total contento
Os mercados quinzenais
Pelas festas de S. Bento
Tomaram muito incremento
Feiras francas anuais

No terreiro da igreja
Feirava-se em feiras francas
Que duravam quinze dias
Ao toque de Ave-Marias
Inda havia muitas bancas.

Assaz púcaro quebrado
Haveria no momento
Vinda inteirinha do Prado
Na sua feira deu brado
Louça dita de S. Bento

Fizeram também os monges
Farmácia de nomeada
E da “Roda da Botica”
Jorravam, como de bica,
Remédios, mexerufada.

No afã de progredir
Até hotéis nos deixaram:
A vulgar hospedaria
E boa reposteria
Em casas que prepararam.

No lindo Casal d’Aloque
E em sua Quinta da Granja
Fomentaram os regrantes
Terrenos para os feirantes.
E quem quer sobrado, arranja.

Os franceses, invasores
Atrasaram o progresso:
Os frades iniciaram
Uma ponte que pararam
Mas a de pau dava acesso

É facto indesmentível,
Histórico e comprovado
Que o burgo de Cidenai
E tudo o que p’r’ali vai
Ao Mosteiro está ligado.
ANTONIO JORGE
Enviado por ANTONIO JORGE em 05/10/2009
Alterado em 14/10/2009
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