A. Jorge Ribeiro
Honra e proveito não cabem num saco
Textos
Santo Thyrso há 100 anos
O concelho de Santo Tirso teria, há cem anos, cerca de 30 000 habitantes.
Deduzidos os habitantes das oito freguesias que partiram para formar o concelho da Trofa, cerca de 8.000, teríamos, então, um «concelho reduzido» com cerca de 22.000 almas. Hoje, segundo estatísticas de 2006, terá o nosso concelho pouco mais de 70.000 habitantes; isto é, a população triplicou em cem anos.
Segundo Roberto Macedo (poema escrito em 1908), a moda masculina constava de labita, pescoço agolilhado e cartola:

“Deram-lhe um frac velho, esburacado,”
“Um chapéu roto, um colarinho enorme,”
“E o pobre tolo, agora, anda conforme”
“As leis da moda, todo empavonado.”

Para uma rápida memorização dos grandes tópicos da História Universal, foi criada uma nomenclatura para a sequência dos séculos, chamada “o baptismo dos séculos” da era cristã:
O primeiro século foi chamado século da redenção.
O segundo, século dos Santos.
O terceiro, século dos mártires.
O quarto, século dos padres da Igreja.
O quinto, século dos bárbaros do norte.
Ao século sexto, chamou-se século da jurisprudência.
O sétimo, foi nomeado século do maometismo.
O oitavo, dos sarracenos
O nono, século dos normandos.
O décimo, século da ignorância.
O undécimo, século das cruzadas.
O duodécimo, século das ordens religiosas.
O décimo terceiro, século dos turcos.
O décimo quarto, século da artilharia.
O décimo quinto, século das inovações.
O décimo sexto, das belas letras.
O décimo sétimo, século da marinha e da engenharia.
O décimo oitavo, século do departamento dos povos.
O décimo nono, século das luzes.
Nesta perspectiva, talvez em dia se chame ao século vinte o século das guerras mundiais, que ficam sempre “a matar” a seguir a cem anos de “luzes”!

Esteve para se mudar a moeda nacional para o luso, com o valor nominal de 200 reis, equivalente ao franco, à lira, ao dracma e à peseta, a fim de que a moeda nacional se aproximasse do sistema da União Latina.

Em Agosto de 1908 havia, no panorama político português, os seguintes partidos: progressista, regenerador liberal, dissidente, nacionalista, republicano e… regenerador. Em Santo Tirso, dirigiam os partidos as seguintes individualidades: António Pires de Lima – partido progressista; António Fonseca e Castro – partido dissidente; Dr. Francisco Pinheiro Guimarães – partido regenerador liberal; Dr. José Miranda – partido nacionalista; Francisco Moreira da Silva – partido republicano.
Segundo o nosso jornal, progressista, para satisfazer ódios pessoais do dr. José Ferreira de Lemos Júnior, o delegado do procurador régio Dr. Francisco dos Santos Pereira de Vasconcelos foi transferido compulsivamente para Beja. O jornal, pessimista, noticia mesmo a morte trágica de Trindade Coelho como vítima do estado anárquico da política portuguesa.  

Esta vitória política dos regeneradores causou grave instabilidade em Santo Tirso, com arruaças ferinas e encarniçados tumultos, em frente ao café do Moura.
Os da turba-multa reclamavam cavalheiros para neles cevarem os seus ódios.
A esposa de Álvaro Garrett foi acometida de um ataque nervoso e o sr. Luís Moreira foi ameaçado com dois revolveres respondendo com tiros aos agressores. Tiveram de fugir uns para o café Moura e outros para a farmácia Castro.
Rebentaram bombas de dinamite, todo o dia e toda a noite, que eram dos regeneradores a festejar a transferência do delegado. À 1,30 da madrugada veio (sic), dos lados do Picoto (lugar do costume), uns Zés pereiras.
Ficaram reclusos: Sebastião Monteiro, Joaquim M. da Silva, Augusto de Oliveira, e Henrique Matos, sendo em pouco tempo todos soltos, com excepção de Luís Moreira por estar muito ferido.

Os inimigos políticos do Dr. Lemos Júnior fazem sair uma carta de desagravo ao delegado para sua majestade e para o concelho de ministros assinada por: António Augusto Pires de Lima, Francisco Pinheiro Guimarães, Arnaldo Baptista Coelho, António Joaquim de Campos Miranda e Padre José Costa.

Como está diferente, Santo Tirso, do tempo em que, na quinta do Mosteiro, e sob a frondente ramada que margina o poético e murmuro Ave, se reuniam algumas famílias no mais festivo e expansivo convívio, passando horas deliciosas, ora bordejando num batel engalanado, singrando a límpida corrente, ora entregando-se aos prazeres da gastronomia – o maior encanto dos pic-nics! Também na ínsua da Palmeira se juntavam escrivão da fazenda na comarca, juiz de direito, delegado da comarca, administrador do concelho, recebedor da comarca…

Há cem anos, decorreu a apresentação do novo Ford modelo T em Detroit. E, a propósito desta efeméride, recordemos um pouco a entrada dos veículos automóveis na vida dos tirsenses.
Na Europa, era a Benz quem dava cartas: o jornal “O Primeiro de Janeiro”, que se apresenta hoje muito débil aos 140 anos de vida, publicava em 1908 um telegrama recebido pelo representante da casa Benz & C.ia, de Manheim, com o seguinte teor: «Henery num Benz primeiro na corrida de S. Petersburgo a Moscow Motor».
A comemorar um século está também a realização, no Brasil, da primeira corrida de automóveis em que o vencedor conseguiu uma média de 50 quilómetros por hora.

Um carro com freio e sem cavalgaduras (automóvel), cuja utilização nas vias públicas tinha sido solicitada ao Governo em 1898 por Raul de Séguier, foi visto pela primeira vez, em Santo Tirso, no dia 15 de Abril de 1900. Pertencia ao Visconde de Pereira Machado e era asseado, elegante e confortável. Extremamente veloz em subida, percorria 25 quilómetros por hora e, em terra plana, 35. Veio à vila também um triciclo, que, à primeira vista, parecia magnífico mesmo para grandes excursões.
Finalmente os aficionados tirsenses das máquinas «se-moventes» (nome que a intelectualidade pretendeu chamar ao automóvel, uma vez que esta palavra – automóvel – era híbrida, isto é, formada de dois compostos, um de origem grega e outro de origem latina), os tirsenses tiveram pois oportunidade de ver na realidade o que os catálogos alemães mostravam em «phototypias».
A primeira “bomba” de gasolina existente em Santo Tirso foi publicitada em Setembro de 1904, no Jornal de Santo Thyrso, e pertencia à Casa Agostinho, na Praça Conde de S. Bento, nºs. 108 a 113.
O primeiro automóvel adquirido por um tirsense chegou a Santo Tirso em 15 de Setembro de 1904. Francisco Cândido Moreira da Silva tinha-o adquirido no Porto. Logo no dia 6 de Outubro seguinte, o capitalista tirsense viu o carro gravemente abalroado pela locomotiva do comboio, junto da estação de caminho de ferro da Póvoa de Varzim, não tendo sofrido graves ferimentos porque se apeou e fugiu antes do embate. Viajava acompanhado de Francisco Cândido Moreira da Silva Júnior que também saiu ileso.

É em Agosto que se realiza a simpática festa da solene distribuição de prémios às educandas e colegiais internas e externas do Colégio de Nossa Senhora do Carmo, de Santa Cristina do Couto.

Publicado no «Jornal de Santo Thyrso» em 8/8/2008
ANTONIO JORGE
Enviado por ANTONIO JORGE em 05/10/2009
Alterado em 05/10/2009
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