A. Jorge Ribeiro
Honra e proveito não cabem num saco
Meu Diário
03/03/2010 07h26
Do ruge ruge se fazem os cascavéis
Os homens livres são marginais.

Martin Heidegger, amado pela judia Hannah Arendt, foi odiado e perseguido pelos nazis e pelos aliados. Ficou, pois, na margem.

Eu, que não gosto da figura histórica dos jesuítas pois tudo nela é antipático, também não gosto da petulância da esquerda que desdoura Richard Wagner por este imenso compositor ter suscitado a admiração de figuras primeiras do III Reich, como Goebbels e Hitler.
Wagner compôs mais de cem grandes obras musicais e foi poeta e jovem revolucionário.
Tannhaüser, Lohengrin, O Anel de Nibelungo, A Valquíria, Crepúsculo dos Deuses, Tristão e Isolda, Os Mestres Cantores de Nuremberga, Persifal…

Os homens livres são marginais.

A propósito do centenário da República – fasto que Portugal nem sequer comercialmente aproveita – nascem como cogumelos as figuras republicanas, desde corneteiros a coronéis, desde poetas a parlamentares, desde juristas a pedagogos. De repente, tudo o que é medíocre se aproveitou da alquimia política do 5 de Outubro para transformar o pó volátil das ideias liberais em ministerialismo. Subitamente, os futuros fautores da Fátima de 17, apareceram a negar a religião e a cruz.

Havia até um comerciante provinciano que “ensaiava repúblicas com os caixeiros, pedindo cabeças de reis, a uns pobres parvajolas que suspiravam apenas por cabeças de gorazes”.

Uma figura que ficou à margem foi José Ribeiro Cataluna.
Viveu num período de poetas, mas a ele não se lhe dava que as cristalinas águas do Ave corressem para baixo ou para cima. Lutou, contudo, para que a princesa do Ave fosse a flor da Europa.
Serviu, com prejuízo pessoal mas com coragem e esperteza, o partido Regenerador e os seus sequazes locais.
Depois da implantação da República – contrariando as hostes republicanas concelhias, pejadas de «adesivos» – entendeu que “regenerador” não era equivalente a “republicano” e passou a ser um indefectível monárquico, fiel a um ideal que lhe trouxe muitos dissabores.
Inteligente, entendeu a marosca. Poderia ter-se feito sonso. Não quis.

Ficou, pois, na margem.

Martin Heidegger foi um homem livre. Autor do libelo que me condena.
Publicado por ANTONIO JORGE
em 03/03/2010 às 07h26
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