23/10/2009 17h39
Bofetada, mão cortada
O título desta página do meu diário também poderia ser “Para uma bofetada, uma facada.”
Se o povo assim falava é porque constituiu provação deveras infamante ser agredido através de quatro taponas, calmadas sem aviso nem premonição.
Chegaram as moscas a nossas casas, catam-se as galinhas nos quintais, juntam-se em bandos os pardais… aí estão os sinais de que a chuva não tarda.
Para prever a precipitação atmosférica através da prenunciadora dor dos calos, é preciso tê-los.
“O autor da «Carta de Guia de Casados» guiava quem quisesse casar; mas não casou.”
Como redijo croniquetas para vários jornais, uso frequentemente pseudónimos, até indiciadores de pessoa daquele sexo a que os ascetas apelidaram de «oposto» porque nunca o viram de qualquer dos prismas. Se há algo no mundo que não é oposto ao sexo masculino, é o feminino. Os teólogos, tendo algum conhecimento prático, chamar-lhe-iam sexo sobreposto, sotaposto, anteposto, descomposto, interposto, justaposto, mas nunca sexo oposto.
É o caso do meu heterónimo Fabrícia Amarilis que tenho usado para textos de maior sensibilidade.
Os cavalheiros dirigem-se à Fabrícia com uma deferência desusada, neste país de machos conflituosos, filhos e netos de lavradores e de mecânicos habituados a que os lobos lhes viessem agadanhar à porta.
Ao filho do sapateiro, ressalvada a consideração que nutro por esta profissão, aconselhou o pai: “Se alguém te falar em versos, fala-lhe tu em botas”.
Se os leitores masculinos de Fabrícia só podem imaginá-la de minissaia rosa às pintinhas encarnadas, umbiguinho ao léu, alvo corpetinho tapa-maminhas bordado e colchetado por um lacinho preto!… deixem-nos assim que os leões têm meiguices que fazem inveja às pombas.
Publicado por ANTONIO JORGE
em 23/10/2009 às 17h39
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