A. Jorge Ribeiro
Um homem, quando adrega de apaixonar-se, ou mar ou terra.
Meu Diário
06/10/2009 07h12
Contente como gato com trambolho
Estou a ler «Agulha em Palheiro» de Camilo.
Sobre o relacionamento de Camilo Castelo Branco com Santo Tirso, escrevi um dia:

Em Junho de 1890, a vila de Santo Tirso estava a preparar umas grandiosíssimas festas a S. Bento que viriam a ser nos dias 10, 11, 12 e 13 de Julho.
O conde destinara 4 a 5 contos de reis para gastar na romaria. E como ainda todos tinham em mente o extraordinário êxito da exposição mundial de Paris de 1899 – onde estiveram mais de um milhão e meio de estrangeiros e, só os americanos, gastaram mais de sessenta e três mil contos em ouro – foi decidido adjudicar ao mestre de obras Manuel Ferreira da Silva a construção de uma torre, tipo torre Eiffel, com mais de trinta metros, que aguentasse com os visitantes nas suas plataformas, donde podiam ver um admirável panorama por um módico preço.
 
Esta torre, denominada Torre do Ave, manteve-se para outras festas de S. Bento, enquanto durou o conde.
Foi durante a azáfama da comissão festiva e das comissões de ruas, preparatória da grande feira franca, arraiais e procissões, que, em S. Miguel de Ceide, estava a desenrolar-se o profundo drama.
Camilo nasceu quando o conde de S. Bento, com 18 anos, calafetava, no Brasil, os fundos das arcas encoiradas que deveriam acumular uma fortuna imensa. Camilo nasceu e viveu para o sofrimento e para o amor, para o conservadorismo e para a literatura, para as suas famílias e para a solidão. O conde nasceu e viveu para o estômago e para o trabalho, para as libras de ouro e para os escravos, para as honrarias e para as benemerências.
E, na hora trágica da morte de Camilo, o conde andava em bolandas a gastar cinco contos de reis em 6-Bandas de Música-6!
Estranha sorte a menos de uma légua de distância! Uns preocupados em proporcionar aos forasteiros “umas brilhantíssimas iluminações”, com luz eléctrica até Cabeçudos! O “primeiro romancista” põe fim aos seus dias por não ter a luz dos seus próprios olhos!
Camilo, que começou a sofrer dos olhos em 1857, penou durante trinta e três anos as dificuldades oftálmicas que o levaram à irremediável cegueira e ao inevitável suicídio. 
 
Publicado por ANTONIO JORGE
em 06/10/2009 às 07h12
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